Atualmente, temos a sensação que a inteligência artificial e os algoritmos estão por todos os lados. É o que de fato está acontecendo e estamos metrificando toda nossa vida.
Mas será que precisamos fazer tudo com IA? Ainda estamos aprendendo a lidar com isso, sobretudo com a relação entre algoritmos e afeto.
Criação ou reprodução? Os riscos de depender da IA para tudo
Estamos chegando a um nível de dependência bem alto quanto à inteligência artificial e, por vezes, sequer notamos. Todos os sistemas são montados para serem fluidos e integrados, com uma interface amigável e ligada ao nosso dia a dia.
Inclusive, estamos “terceirizando” nossas relações, apoio psicológico, tarefas, ideias e organização cotidiano para IAs, navegando nas incertezas através de algoritmos e afeto.
O relatório 2025 Top-100 Gen AI Use Case Report lista as 100 principais aplicações atuais de IA generativa. A pesquisa classifica os usos de acordo com a utilidade percebida e a escala de impacto.
De 2024 para 2025 houve uma mudança interessante: “geração de ideias” que ocupava o primeiro lugar, caiu para sexta posição. E “terapia/companhia” saiu do segundo para o primeiro lugar.
Mesmo com perda de posições, “geração de ideais” ainda é um uso frequente das pessoas sendo aplicado em diversos setores profissionais, mas também pessoais e acadêmicos.
Então, o problema não é gerar ideias, mas o uso excessivo sem contextualização. Parece que tudo vira reprodução do mesmo e não abrimos espaços para nossa criatividade e até propostas mais “mirabolantes” que são importantes para a inovação.
Sim, sabemos que algo 100% original não é possível, afinal, vamos pegando várias referências e construindo algo em cima disso. É a vibe “Roube como um artista”, um livro muito bom que super indicamos. Ou seja, abrace as influências, misture e reimagine para o seu cenário.
Assim sendo, alta dependência (de qualquer coisa) nos deixa atrofiados e despreparados para diversas situações.
Um outro ponto importante, olhando para nosso contexto comunicacional, de marketing e branding, é que não basta apenas criar uma marca autêntica de forma mais “humana” e depois delegar todo o resto para as IAs.
Será mera replicação e reprodução, perdendo todo trabalho inicial de criação.
O que se perde quando abrimos mão do autoral entre algoritmos e afeto
É tudo IA agora? Parece! Mas será mesmo que precisa mesmo ser? Podemos aprender a conviver entre algoritmos e afeto, sem perder o senso crítico e as afetividades.
Com o avanço acelerado das ferramentas de inteligência artificial entramos em uma era onde algoritmos moldam (quase sem percebermos) o que vemos, sentimos e até desejamos.
Em meio a esse turbilhão tecnológico, onde fica o olhar humano? A sensibilidade? A linguagem em sua essência? O toque mais artesanal que transforma um conteúdo em experiência?
O recente debate envolvendo o Studio Ghibli e as ilustrações feitas por IA que viralizaram nas mídias sociais deixou claro um ponto delicado: a crise da autoria no digital.
O criador Hayao Miyazaki ficou bastante incomodado com a trend #GhibliAesthetic, pois a animação que criou foi feita à mão, de forma meticulosa e com tempo, ou seja, totalmente ao contrário do que aconteceu com a reprodução das ilustrações.
Isto é, há o questionamento de quem é o “verdadeiro” autor de um conteúdo, sobretudo porque está cada dia mais difícil fazer a distinção. Somado a isso, pode nos levar à homogeneização do conteúdo e à diminuição de nuances culturais e emocionais.
Além de questões de inovação e criatividade, também podemos falar sobre o lado ético, direitos autorais e vieses dos algoritmos. Realmente, é um longo debate que merece nossa atenção.
Outros dois pontos que valem destaque é o sentido e o contexto, pois ao ignorarmos esses dois aspectos humanos e relacionais, perdemos autenticidade e a parte autoral.
É preciso cuidado com o excesso de automação, pois quando tudo parece perfeito, limpo e genérico, o que ainda nos toca?
Não estamos aqui para dizer “não use IA”. Pelo contrário: ela já está entre nós, isso é um fato. E sim, facilita vários pontos do cotidiano, traz agilidade e retira alguns pesos do trabalho e da vida pessoal.
A questão é quando, como e por quê utilizar. A promessa de que a IA vai “salvar” nossos processos, acelerar nossos resultados e resolver nossos dilemas criativos pode ser tentadora, mas também esconde armadilhas.
A resposta não está em escolher entre inteligência artificial ou humana, mas em pensar em inteligência artificial e humana. As duas coexistem (cada vez mais). É entre todos esses aspectos que moram as marcas estratégicas e humanizadas.