Palavras do ano: como a linguagem reflete nos comportamentos e nas marcas

Todo ano, diversos dicionários renomados lançam uma palavra que define os 365 dias que se passaram. Cada um tem seus próprios critérios, características e explicações.

Achamos muito interessante avaliar essas palavras do ano elencadas e refletir sobre o que elas querem nos dizer. Ou seja, de que forma refletem o ano que passou.

Isso é importante para compreendermos cenários, comportamentos, públicos e, claro, adequar essas perspectivas às marcas. Vamos nessa fazer essas reflexões?

A linguagem influencia a construção do mundo

A linguagem é uma das bases do ser humano. Inclusive, o que nos diferencia. Não à toa, desenvolvemos nossa própria forma de nos expressarmos e comunicarmos, bem como de nos relacionarmos.

Fritjof Capra (2002)* entende que a linguagem é como um sistema de comunicação formado por símbolos e que os humanos adquirem comportamentos e atitudes com base na forma como falam, se expressam e entendem uns aos outros.

Queremos dizer que é necessário estar atento às nuances, sentidos, símbolos relacionados a cada palavra, discurso, narrativa. Isso vale para pessoas, suas relações e, claro, para marcas e suas formas de expressão e posicionamento.

Então, para entendermos o contexto atual, especialmente do ano que passou, bora conhecer as palavras do ano e refletir sobre suas possíveis relações?

As palavras do ano de 2024

Agora sim, vamos conhecer algumas das palavras elencadas como primordiais para 2024! 

Separamos alguns dos principais dicionários e suas visões sobre cada termo. 

Dicionário Collins: “brat”

O Dicionário Collins elegeu “brat” como a palavra do ano de 2024, definida como uma pessoa confiante, independente e hedonista. 

O termo foi popularizado pela cantora britânica Charli XCX, que nomeou seu último álbum com o mesmo nome, tornando a ideia um fenômeno cultural global. 

Assim, a própria cantora descreveu o conceito como uma atitude despreocupada, honesta, volátil e festeira. Além disso, incorporou a ideia em elementos visuais e sonoros, como a cor verde-limão. 

Inclusive, esses elementos se popularizaram bastante chegando até na campanha eleitoral da para presidência de Kamala Harris.

A escolha reflete a influência crescente das redes sociais e da cultura pop no vocabulário global. Em 2023, a palavra escolhida foi “IA”.

Dicionário Cambridge: “manifestar”

Ano passado, o Dicionário Cambridge elencou a palavra “hallucinate”, ou seja, alucinação, mas teve seu significado ampliado pela inteligência artificial e suas alucinações, como produção de informações falsas.

A escolha pela Cambridge se dá a partir de três critérios fundamentais: é baseada em três critérios: dados de pesquisa, espírito do tempo (zeitgeist) e relevância linguística.

Já para 2024, optaram por “manifestar”, o qual foi procurado cerca de 130 mil vezes em seu site. 

A palavra refere-se à prática de usar métodos como visualizações e afirmações para imaginar e atrair a conquista de desejos, acreditando que isso aumenta as chances de sucesso.

Está relacionada com então com o otimismo, bem como com sonho e objetivo.

Nesse cenário, o termo se popularizou em comunidades de autoajuda, ganhando força durante a pandemia e sendo difundido por diversas celebridades (de atletas a artistas), como Simone Biles, a qual utiliza a prática em suas conquistas.

Dicionário Oxford: “brain rot”

A Oxford escolheu o termo “brain rot” (deterioração mental), destacando preocupações com o impacto negativo do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade. 

O termo teve um aumento de 230% em sua frequência de uso entre 2023 e 2024.

Assim, a combinação de palavras se refere ao suposto declínio mental causado pelo consumo excessivo de material trivial, especialmente nas redes sociais.

Popularizado por plataformas como TikTok, especialmente entre as gerações Z e Alpha, o termo expandiu seu uso para descrever o impacto negativo da cultura online sobre a saúde mental, principalmente em jovens.

Dicionário Online de Português: “imersão”

O Dicio escolheu “imersão” como a palavra do ano de 2024, refletindo as mudanças no comportamento humano impulsionadas pelos avanços tecnológicos e novos desafios.

Portanto, a palavra foi escolhida por refletir eventos significativos dos últimos 12 meses e a equipe do analisou mais de 200 milhões de pesquisas para identificar termos que simbolizam mudanças sociais importantes.

Assim, o termo foi inicialmente relacionado ao ato de mergulhar. Porém, com as mudanças contemporâneas, expandiu-se para descrever estados de completo envolvimento em atividades como educação, cultura, emoções e realidade virtual.

Como isso impacta as marcas?

A linguagem desempenha um papel crucial na construção de significados, relações e identidades, influenciando diretamente a forma como marcas se posicionam e dialogam com seus públicos. 

As palavras do ano escolhidas como representativas de 2024 não são apenas reflexos culturais e tendências, mas também indicadores de mudanças no comportamento humano e no zeitgeist global. 

Entender esses termos vai além da semântica: é sobre como eles impactam a percepção, o relacionamento e a estratégia das marcas. Assim como, uma certa orientação para que possam se adaptar a esses contextos.

Por exemplo, quando observamos o termo “brat”, ele se reflete na necessidade de dialogar com uma audiência que valoriza a auto expressão e experiências ousadas. Ou seja, promoção de autenticidade, diversão e um toque de rebeldia podem atrair públicos, indo além da automação.

Já em “manifestar”, vemos um lado mais de crescimento pessoal, bem-estar, autocuidado. Consequentemente, estamos falando de espírito e emoções, o que pode resultar em associações com propósito e ações para que os públicos alcancem suas metas e inspirações.

E por aí vaí! As ideias e conexões não se esgotam e vão depender da sua marca, objetivos, contextos, públicos e comunicação adotada. 

A relevância cultural e estratégica das palavras do ano para as marcas

As marcas estão carregadas de conteúdos que refletem ideologias e experiências que surgem a partir dos contextos nos quais interagem. Não existe uma neutralidade no processo de construção de significado. 

Portanto, as palavras e mensagens de uma marca não são apenas resultados de um processo comunicativo, mas também dependem dos contextos sociais e das posições adotadas pelas marcas. 

E claro, precisam estar atentas aos termos, linguagens e comportamentos contemporâneos. Para então, criarem sua própria identidade verbal.

Assim, “[…] fica evidente que as marcas evoluíram para além dos produtos, criando uma linguagem social e discursos próprios, ofertando novas possibilidades, sentidos e sensibilidades” (Jungkenn, 2023, p. 52)****.

Para acompanhar mais das nossas reflexões, clique aqui. 

*CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Editora Cultrix, 2002.

**JUNGKENN, Glória Rückert. Comunicação organizacional e as marcas discursivas das marcas na contemporaneidade. 2023. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS, Porto Alegre, 2023. Disponível em: https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/10668. Acesso em: 15 nov. 2023.